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Pesquisa combate patologias na suinocultura
Barcellos integrou pesquisa que resultou na redução de 80% da chamada pneumonia exótica em granjas
Arquivo pessoal/Divulgação/JC
Um dos pioneiros no estudo e no combate de patologias suínas no Brasil, o David Emilio Santos Neves de Barcellos é o agraciado na categoria Cadeia de Produção e Alternativas Agrícolas no prêmio O Futuro da Terra. A partir de seus estudos, ocorreram os primeiros diagnósticos de doenças em porcos como a colibacilose, a rinite atrófica, a pleuropneumonia e a sarna.
Professor convidado do curso de Pós-graduação e Especialização em saúde animal da Faculdade de Veterinária da Ufrgs, ele é um dos responsáveis pelo estudo que resultou na redução de 80% da chamada pneumonia exótica nas granjas do País, garantindo melhorias na produção e redução de custos para o produtor.
“Essa doença é praticamente positiva em todas as granjas. O problema é que não pode haver é uma infecção nas fases críticas da vida do animal. Então, o que a gente faz é provocar uma contaminação bem precoce desses animais, quando eles têm de 40 a cento e poucos dias de idade. Assim, eles vão adquirir imunidade de forma orgânica. Além disso, por meio dessa modulação, se reduz drasticamente a necessidade do uso de antibióticos a partir da seleção das bactérias resistentes”, explica o veterinário.
Segundo explica Barcellos, o processo consiste em separar do rebanho os animais que se encontram nesta fase inicial de desenvolvimento e borrifar a bactéria no local com uma espécie de bomba. “Os leitões acabam respirando o ar contaminado e se infectando no momento certo, modulando a imunidade de rebanho. Fazermos dessa forma porque não há uma vacina para esta doença.”
Trata-se de uma imunização através de uma infecção ativa, mas em uma fase considerada pelo estudo como a certa para isso. “Quando não havia esses processos de adaptação, os animais adoeciam e, para evitar a sua morte a gente medicava. Com essa nova prática, a quantidade de medicação reduziu muito, assim como a resistência à doença”, detalha o professor.
Em cada canto do mundo, grupos de pesquisadores atuaram para se chegar ao momento atual. Trabalhando em conjunto com universidades internacionais, o procedimento já rompeu fronteiras e hoje também vem sendo aplicado em outros locais do mundo. Um exemplo citado pelo pesquisador é o Estado do Minesota, nos Estados Unidos, onde uma de suas alunas de doutorado trabalhou de forma simultânea com o que era realizado no Brasil.
“A gente trocou muita informação com esses outros grupos, mas a gente teve um papel bem importante aqui no Rio Grande do Sul. É um processo bem racional, do ponto de vista da produção animal, que tem um grande impacto no bem-estar dos animais e na melhoria sanitária. Sem falar na economia que provoca, porque nosso método não tem custo, é simplesmente colocar os animais em contato uns com os outros em determinadas circunstância”, destaca.
Legado de seus estudos para as próximas gerações
O seu interesse pelos animais surgiu quando, ainda pequeno, David passava as férias na casa dos avós, em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Na época, ele circulava pelas fazendas dos amigos e buscava entender melhor sobre pecuária e a saúde dos bovinos.
Entretanto, quando se formou e conseguiu emprego no Instituto de Pesquisa Veterinárias, em Eldorado do Sul, a vaga que tinha era no Laboratório de Patologia Suína. “E acabei gostando muito dessa área, que não usa tanto a clínica individual, mas trabalha com clínica do rebanho. Então, a gente não sofre tanto pelo indivíduo, pois quando um animal está doente eu fico com muita pena."
Com mestrado em Microbiologia Médica pela University of London (1977) e doutorado em Ciências (Microbiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000), o estudo sobre a sanidade e doenças de suínos o conquistou de vez. A partir disso, abriu-se mais um dos caminhos exitosos de sua vida profissional: a docência.
Barcellos começou atuando como professor titular de Medicina de Suínos na Favet/Ufrgs de 1980 até 2016, onde foi paraninfo de várias turmas de formandos, demonstrando sua influência positiva na formação acadêmica de muitos profissionais.
Na sua esteira, veio uma longa lista de profissionais especializados nesta linha de estudos. “Eu orientei 41 alunos em curso de pós-graduação na faculdade de Veterinária da Ufrgs. Foram 37 como mestres e quatro como doutores. Todos esses aí são professores ou estão trabalhando nessa área de doenças de suínos em diversos estados do Brasil. Essa também é uma é uma extensão grande aí da minha atividade, no treinamento de pessoas. E como titular no curso de graduação, eu formei uma quantidade grande de profissionais ao longo destes 35 anos, hoje sei de mais de cem ex-alunos que estão trabalhando na área”, orgulha-se o veterinário.
Além dos diversos prêmios e títulos de entidades variadas, o pesquisador publicou 166 artigos científicos, participou ou publicou 21 livros/capítulos de livros na área de sanidade suína e mais de 630 textos em jornais, revistas, trabalhos completos e apresentações em congressos, destacando-se como um prolífico autor e pesquisador.
Desde 2017, é presidente do Comitê Estadual de Sanidade Suína do RS, posição em que continua a influenciar diretamente as políticas e práticas de sanidade suína no Estado. Sua liderança nesse comitê reflete seu compromisso contínuo com a saúde e o bem-estar dos rebanhos suínos.
O seu legado técnico-científico, combinado com sua dedicação à formação de novos profissionais, fez uma diferença significativa na evolução da suinocultura no Brasil. Seu reconhecimento nacional e internacional é uma prova de sua excelência e impacto duradouro no setor.
Fonte: Jornal do Comércio