Notícias
"O Sul é insensível a ferrovias"
Entrevista de Neivor Canton, presidente da Aurora Coop, à coluna de Acerto de Contas, da jornalista Giane Guerra, publicada no jornal Zero Hora de 22/09/2025
Presidente de uma das maiores cooperativas do Brasil. Neivor Canton desabafa sobre a falta de ferrovias no Sul. A Cooperativa Central Aurora Alimentos (Aurora Coop), de SC, vendeu quase R$ 25 bilhões em 2024 e tem forte operação no RS. Buscar milho para as indústrias do Oeste Catarinense exige 150 mil viagens de caminhões por ano, enquanto a produção é escoada pelo modal até 50% mais caro.
Não estamos atrasados demais nas ferrovias?
Embora tardio, o movimento precisa iniciar. No Sul em especial, mas o Brasil inteiro é insensível com este problema sem saber a importância de uma rede ferroviária. As pessoas não se sensibilizam facilmente, inclusive e infelizmente as que deveriam ter tino de planejamento nos Estados, que vão perdendo competitividade. Se é que um dia tiveram com esta infraestrutura.
O senhor falou "só um alienado não percebe o risco que paira sobre o Grande Oeste catarinense..."
Além da safra, tem suinocultura, avicultura, bovinocultura de leite, que se desenvolvem aqui de forma extraordinária. É berço de produção intensa, a ser escoada a portos e mercado interno. Essa expressão é um desabafo, porque não percebemos que governos estejam preocupados com a sobrevivência, o crescimento e a geração de mais e melhores empregos. Não é um esforço que custa tanto, basta ter visão para buscar soluções. Não são de curto prazo, temos consciência. Se a tivéssemos há algumas décadas, não teríamos abandonado os patrimônios das ferrovias construídas há séculos e relegadas. As atividades econômicas vão gradativamente se realocando para geografias diferentes ou encerrando negócios.
Disse ainda que o país é "refém do rodoviarismo", que é usado apenas para trajetos até 500 quilômetros em países avançados economicamente. O argumento aqui é que ferrovia é cara. Mas não foi caro lá também?
Vemos no mundo o sistema ferroviário evoluindo, não parado como aqui. A cada ano, há novidades, investimentos e inovações nas ferrovias. Precisamos buscar, de fato, esse movimento que iniciamos aqui pelo Oeste Catarinense, mas precisa integrar o Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. No futuro, tem que contemplar o Brasil inteiro. Não há como fugir, as cargas precisam ser movimentadas por vias mais econômicas.
Desde que começou o movimento, houve efeito concreto?
O governo de SC vem realizando um anteprojeto de uma linha para ligar o extremo Oeste Catarinense ao Litoral, margeando a BR-282, que é a única rodovia que conecta oeste a leste. É a única iniciativa concreta. A classe política não tem se unido em torno de objetivos estratégicos. Há uma dispersão de interesses para atender ao curral eleitoral.
Qual a atuação da Aurora Coop no Rio Grande do Sul?
Temos 8 mil funcionários diretos aí, além de diversas unidades fabris e de distribuição. Temos dois frigoríficos em Erechim, de aves e suínos. Temos uma unidade de processamento de suínos em Sarandi, duas de aves em Tapejara e distribuição para as regiões de Passo Fundo e Porto Alegre. E tem toda uma rede de produtores cooperados de suínos e de aves, além da bacia leiteira.