Notícias
Jornal do Comércio: Produção suína nos vales tem expansão após cheia
Entre os Vales do Taquari e Rio Pardo, concentram-se 30% da produção industrial de suínos no Rio Grande do Sul. Um dos principais setores responsáveis por tornar as regiões referências em relação à proteína animal no Estado é um dos que, após o impacto da cheia de maio, tem a resposta mais vigorosa para a economia gaúcha. Com os abates 100% recompostos, entre julho e agosto o Rio Grande do Sul exportou 56 mil toneladas de carne suína — 16, 8 mil toneladas entre os Vales —, com um faturamento de US$ 140 milhões.
“Desde as cheias, temos vivido um momento de fortalecimento. O setor de suínos é o único que tem abates positivos no Estado em relação ao ano passado, e a perspectiva é muito positiva, com a possibilidade de abertura de novos mercados internacionais em breve, com a visita prevista do presidente chinês ao Brasil em novembro. Este movimento de recomposição movimenta não somente a indústria, mas todo o setor que vem de três anos em dificuldades pela estiagem e os preços deprimidos”, aponta o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS (Sips), Rogério Kerber.
A expectativa do setor é abrir o mercado chinês para cortes suínos com osso e miúdos, o que resultaria em pelo menos US$ 100 milhões a mais nessa relação comercial. Conforme os dados da Fundação de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), foram abatidos 6, 8 milhões de suínos no Estado entre janeiro e agosto deste ano, 1, 16% a mais do que no mesmo período de 2023. A média de abates entre junho e agosto, no pós-cheia, foi 4% superior aos cinco meses anteriores deste ano. De acordo com Kerber, as perdas nos sistemas integrados de criação não foram expressivas.
Em relação às indústrias, OS casos mais graves foram da unidade da BRF, considerada a maior indústria de Lajeado, a unidade de processamento da JBS, em Arroio do Meio, e a cooperativa Dália, com sua unidade de suínos em Encantado. De acordo com o presidente executivo da cooperativa, Carlos Alberto Freitas, por meio de nota, “os prejuízos foram imensos, muito significativos e, certamente, serão necessários muitos anos para retomarmos o estágio anterior às inundações”.
Ele refere-se também às cheias de setembro e novembro do ano passado, sem revelar valores das perdas. A Dália conta com uma rede de 363 produtores de suínos. A unidade, invadida pela água, retomou a produção no dia 20 de maio. Desta vez, no entanto, a direção da cooperativa garante que foi menos surpreendida do que no ano passado, com algumas adaptações que deram maior resiliência às suas instalações.
Avicultura espera apoio financeiro
O complexo avícola da Dália também foi afetado pela cheia, mas com menor gravidade, em Arroio do Meio. À produção, no entanto, ficou parada em virtude da falta de energia elétrica. Conforme a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), o Vale do Taquari responde por 21% da produção de frangos e outros 10% de ovos no Rio Grande do Sul. Ao todo, a associação estimou em R$ 247, 8 milhões em perdas às empresas do setor.
Além do complexo aviário da Dália, o frigorífico da Minuano também ficou 20 dias sem produzir em Lajeado. Em Rio Pardo, o frigorífico Bom Frango, atingido pela terceira vez, paralisou a produção por um mês. Na região, houve redução de 4, 8% nos abates entre janeiro e agosto em relação ao ano passado.
“A retomada só será possível com acesso a recursos que ainda não foram liberados pelo governo a algumas empresas do setor. Se vierem recursos, acredito que em um ano poderemos dizer que o setor voltará a atuar a pleno”, diz o presidente-executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos.
Cooperativa aposta em parcerias
As chelas encontraram a cooperativa Languiru, com sede em Teutônia, em pleno período de reestruturação. E neste processo, desde 2023 a Languiru tem se aperfeiçoado em parcerias para se manter ativas e retomar a sua produção. No momento de retomada, este know-how acabou sendo fundamental. Caso emblemático aconteceu na produção de leite.
“A cadeia do leite foi muito afetada, então mobilizamos uma rede de parcerias e apoio. Na nossa planta em Teutônia, recebemos leite e envasamos para oito indústrias durante o período mais crítico da enxurrada. Por outro lado, no Sul do Estado, por exemplo, uma cooperativa de São Lourenço do Sul absorveu 7 mil litros de leite dos nossos associados, que não conseguimos recolher e trazer até o Vale do Taquari, com problemas logísticos. No Vale do Rio Pardo, direcionamos, por exemplo, para laticínios da Dália e da Baky, em Passo do Sobrado. É uma marca da região uma empresa ajudar a outra”, avalia o presidente da cooperativa, Paulo Roberto Birck.
No seu processo de recuperação, hoje a maior parte dos 7, 5 milhões de litros de leite por mês recebidos pela Languiru vai para a Lactalis, também em Teutônia. Em contrapartida, até 20% do produto é envasado com a marca Languiru. A unidade segue operando nas linhas de derivados do leite.
Em outra frente, está o frigorífico de aves da cooperativa, em Westfália. Lá, há terceirização da produção com a JBS, e está em crescimento. Com habilitação para vender à China, o frigorífico tem alto padrão técnico e, neste ano, abriu o segundo turno de produção. Já são abatidas aproximadamente 155 mil aves por dia em Westfália — 130 mil à produção da JBS e 25 mil à Languiru.
Fonte: Jornal do Comércio