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Com preço menor e quebra de produtividade, safra 23/24 de soja pode ter resultado negativo

Estudos comprovam que parte das perdas da suinocultura está relacionada à falta de cuidados com a ambiência em todas as fases da produção. Desse modo, fica evidente que o conhecimento sobre o ambiente mais adequado para os suínos, fator relevante para o bem-estar animal (BEA), é uma das pautas mais relevantes para o segmento.

Como mostram diversos trabalhos da área, as respostas crônicas de estresse em granjas que não seguem os preceitos do BEA são significativas, seguidas por queda de produtividade (Hemsworth et al., 1996). Outras decorrências são o retardo ou a diminuição do ganho de peso e o atraso no início da reprodução, afetando significativamente os índices produtivos das granjas, (Broom & Molento, 2004) pois os suínos possuem pouco controle das situações a que são submetidos e ativam o medo como recurso para evitar situações perigosas (Hötzel et al., 2007).

“O conceito de ‘enriquecimento ambiental’ tenta trazer soluções para essas questões, ao introduzir melhorias no sistema de confinamento, tornando o ambiente mais amigável aos animais. Algumas das mudanças propostas são a adoção de baias coletivas para porcas em gestação, treinamento para que o tratador aprenda a manejar os animais e disponibilização de brinquedos, dentre outros objetos, sobre as baias, para a distração dos leitões. Alguns manejos, como o corte dos dentes e da cauda também estão entre as práticas a serem evitadas. A imunocastração tem sido uma excelente opção ao método tradicional, sendo hoje amplamente utilizada nos sistemas de produção tecnificados do Brasil”, explica Dener Paulo Tres,  assistente técnico da Zoetis na área de Suínos

A adoção do BEA, além de melhorar os índices produtivos, é também uma preocupação para grande parte dos consumidores na atualidade e pode se refletir na decisão de compra de determinados produtos. Segundo Warriss et al. (2006), as pessoas passaram a desejar comer carne oriunda de animais criados, tratados e abatidos em sistemas que promovam bem-estar, definido como “qualidade ética” em um sistema de produção sustentável sob condições ambientalmente corretas.

Por isso, gigantes do setor de alimentação, por exemplo, já declararam que, até o final deste ano, devem trabalhar somente com produtores que não usem gaiola gestacional. Assim, algumas granjas também estão fazendo a transição gradual para o sistema de gestação coletiva.

Para a adoção do BEA, os animais precisam viver conforme os princípios das 5 liberdades: livres de fome e sede; de dor, injúrias e doenças; de desconforto; de medo, de estresse e livres para expressar seu comportamento natural

O animal deve ter acesso à comida e água na quantidade, frequência e qualidade ideais para o seu desenvolvimento. Uma dieta balanceada, assim como a hidratação apropriada, são fundamentais para manter o equilíbrio nutricional e evitar doenças.

“A saúde física dos suínos de corte é de extrema importância, principalmente porque criações de grande densidade apresentam maior risco de transmissão de doenças. Sendo assim, é imprescindível que os animais tenham acompanhamento periódico de um médico veterinário, realizando monitorias sanitárias frequentes e que o programa e calendário vacinal estejam em dia”, lembra Dener.

O ambiente deve ter boa ventilação, além de temperatura e umidade do ar adequadas para proporcionar conforto térmico. O espaço ainda deve ser amplo o bastante para possibilitar a movimentação. Caso essas questões não sejam atendidas, o suíno pode se sentir estressado, o que, consequentemente, afeta o seu desempenho.

Levantamento realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostra que, apesar de um cenário de queda nos preços de importantes insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos e sementes, a receita líquida de produtores de soja de importantes regiões do Brasil pode ser negativa na safra 2023/24.

Segundo pesquisadores do Cepea, esse cenário está atrelado ao menor preço de negociação da soja e à queda na produtividade – vale lembrar que a maior parte das lavouras foi prejudicada pelo clima desfavorável, por conta da atuação do fenômeno El Niño.

Esse contexto acende um alerta no setor, já que pode resultar em dificuldades para pagar investimentos. Sojicultores podem precisar renegociar dívidas ou até mesmo vender maquinários. Ressalta-se que o Cepea não considerou o arrendamento, ou seja, a situação de um produtor arrendatário é ainda pior.

Dentre as regiões avaliadas pelo Cepea – Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Dourados (MS), Cascavel (PR) e Carazinho (RS) –, apenas a praça do Sul do País que pode apresentar margem positiva na safra 2023/24. Neste caso, o resultado positivo se deve à recuperação na produtividade da soja de Carazinho nesta temporada frente à anterior (2022/23). Vale lembrar, porém, que a temporada 2022/23 de Carazinho foi fortemente prejudicada pelos efeitos do La Ninã, ou seja, a comparação atual está sendo feita com um cenário de baixa produção.

Já para as demais praças, o Cepea estima margens negativas. Em Sorriso, por exemplo, o Cepea estima, até este momento, prejuízo parcial de 370 Reais/hectare na safra 2023/24, contra retorno positivo de 1.421 Reais/ha na safra anterior.

Para estas estimativas, o Cepea considerou os custos operacionais efetivos levantados por meio do Projeto Campo Futuro, parceria entre o Cepea e a CNA, via painel, os preços de negociação da soja entre janeiro/24 e fevereiro/24 e os valores dos insumos adquiridos de janeiro a setembro de 2023.

Fonte: Cepea